As cortinas vermelhas do Chevrolet Hall abriram-se com meia hora de atraso. Mas o que são míseros 30 minutos para uma multidão que, em sua maioria, esperava há anos a oportunidade de escutar ao vivo aquela que é considerada a maior boy band da história da música mundial? Câmera na mão, faixa na testa, olhos tão atentos quanto incrédulos, além do mais barulhento grito que a garganta permitia.
Os fãs estavam prontos. Sempre estiveram. No palco, surgem AJ, Brian, Howie e Nick, que, logo na primeira música, deixam claro a que vieram: “Backstreet’s back, alright?” (“Backstreet está de volta, certo?”), cantam no refrão de “Everybody”, primeiro hit do grupo.
Durante a 1h45 que veio em seguida, não faltaram coreografias com palmas, ombros jogados para os dois lados, rebolados, passos sincronizados. O que faltou, na verdade, foi uma cenografia mais elaborada: em vez de uma superprodução no palco, apenas uma escada com saída nos dois lados e um telão ao fundo. Mesmo assim, o público - de todas as faixas etárias e de ambos os sexos - foi ao delírio.
Ao todo, os Backstreet Boys (BSB) cantaram 23 músicas, incluindo sucessos que justificam os cerca de 130 milhões de discos vendidos ao longo da carreira e as canções do álbum mais recente, “This is us”, que dá nome à turnê a qual o Recife foi a primeira cidade da América do Sul a conferir.
O primeiro a arriscar algumas palavras em português foi Howie, que soltou um “Olá, Brasil!”, sendo seguido por AJ e o seu “Obrigado!” ao fim da terceira canção. Mas a plateia queria mesmo era escutar o inglês dos integrantes. Escutar não, e sim cantar junto, quer dizer, ainda mais forte que o volume do microfone de todos eles juntos. Em músicas como “Quit Playing Games (With My Heart)” e “I Want It That Way”, as grandes estrelas da noite tornaram-se meros coadjuvantes diante da voz ensurdecedora de milhares de pessoas.
Como manda o figurino, as trocas de roupas não tardaram a acontecer, afinal toda boy band que se preze não deve abrir mão desse artifício tão recorrente no universo da música pop. Nesses intervalos, para evitar que os gritos fossem interrompidos e as câmeras fossem desligadas, o telão mostrava minivídeos em que cada integrante da banda “contracenava” com astros do cinema hollywoodiano. Por meio do milagre da montagem, Howie D dirigia um carro na companhia de Vin Diesel em “Velozes e Furiosos”; AJ aparecia com Edward Norton em “Clube da Luta”; Nick tentava, em câmera lenta, se livrar das balas em “Matrix”; e por aí vai.
Entre os clichês da noite, merecem registro a coreografia dos integrantes com direito a mãos fazendo um coração na música “Shape Of My Heart” e o sempre funcional “This is our first time in Recife and I can promise you that’s not the last” (“Esta é a nossa primeira vez no Recife e eu posso prometê-los que não será a última”), dito por Brian.
E lógico que não poderiam faltar os desmaios. Várias fãs precisaram ser socorridas durante a apresentação, algumas delas durante a execução de “Show Me The Meaning Of Being Lonely”, fato que acabou sendo uma referência ao clipe da canção, que se passa dentro de um hospital.
Por outro lado, o que fugiu ao script já esperado do show garantiu momentos inusitados. Um deles ocorreu quando alguém da plateia conseguiu, por meio do segurança, que uma sombrinha de frevo chegasse até os integrantes. Nick e Brian interagiram com o objeto, tendo o segundo demonstrado, com os passos que tentou fazer, que ao menos já ouviu falar no Carnaval pernambucano.
Outra situação curiosa aconteceu no bis, quando AJ, incrédulo, olhava para o sutiã preto que veio da plateia direto para as suas mãos. Isso para não falar da cueca branca que arremessaram ao palco e Nick pegou aparentemente sem desconfiar do que se tratava.
Não há dúvidas de que a primeira apresentação do BSB no Nordeste brasileiro cumpriu o seu objetivo: fazer os fãs cantarem e dançarem junto com os ídolos. Foi uma catarse coletiva e uma ode ao auge da música pop produzida na metade da década de 90 e no início dos anos 2000, história esta que os Backstreet Boys ajudaram a construir com suas canções agitadas de refrão fácil e suas baladas açucaradas, porém funcionais em manter viva a esperança de um amor cada vez mais utópico nos dias atuais.
“Os garotos da rua de trás” podem até ter diminuído o sucesso de antes e nem serem tão garotos assim, mas, enquanto tiverem a seu favor as lembranças dos fãs que vivenciaram a época de ouro da banda, a paixão e a euforia dos anos dourados dificilmente sairão de cena.
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