domingo, 5 de maio de 2013

Não haverá mais Templo


As grandes experiências do autor do Apocalipse são provocadas pela ação do Espírito. Já no capítulo 1, versículo 10, “movido pelo Espírito, ele experimentou o Cristo ressuscitado no coração das comunidades. Agora, no capítulo 21, versículo 10, “em espírito”, Ele é conduzido a uma montanha grande e alta a fim de ver a cidade santa, Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus. Na Bíblia, com muita frequência, a montanha é o lugar onde se experimenta a presença de Deus.
A Jerusalém celeste é a nova sociedade nascida do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. É dom de Deus, mas é, também, resultado das lutas do povo por justiça e liberdade.
O Apocalipse afirma que a nova sociedade é a prostituta transformada pela força do Evangelho. A mensagem que ele nos dá é esta: não se trata de esperar que a Jerusalém celeste se concretize na consumação final, pelo contrário, é hora de por mãos à obra e, pelo Evangelho, transformar em esposa do Cordeiro a Prostituta, que é a sociedade em que vivemos e com a qual, em maior ou menor escala, todos nós nos prostituímos. Não se trata de destruir este mundo para refazê-lo do nada. Trata-se, antes, de renovar radicalmente este mundo, mudando todas as relações.
O texto apresenta algumas características da nova sociedade:
1 – É radiante da glória de Deus, ou seja, é a manifestação visível e luminosa da presença de Deus na humanidade.
2 – Ela brilha como uma pedra de jaspe cristalino.
3 – Ela tem uma grande muralha com doze portas. É uma sociedade proposta e aberta a todos. É a sociedade que irá por em prática o projeto de Deus anunciado desde o Antigo Testamento, manifestado plenamente em Jesus e confiado aos apóstolos do Cordeiro.
Não há nela nenhum Templo. No Antigo Testamento, o Templo de Jerusalém era o lugar onde o povo se encontrava com Deus, sobretudo mediante as celebrações e sacrifícios, oficiados pelos sacerdotes. A nova sociedade não precisa mais de liturgia ou de mediações religiosas, políticas e econômicas. A única e verdadeira liturgia da nova humanidade é a vivência do projeto de Deus, o sacerdócio do povo de Deus e o sacerdócio do Cristo se fundem numa única realidade, pois a humanidade como um todo contempla a Deus face a face. Deus e o Cordeiro, vivendo em meio a seu povo, são a luz da sociedade que nasce da experiência do Espírito. Enquanto não chegar o momento de dispensarmos liturgias e mediações, sejam elas de qualquer gênero ou espécie, fiquemos atentos às autênticas experiências que o Espírito nos sugere.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

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