31Depois
que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do
Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado
nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo.
33aFilhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. 34Eu
vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim
também vós deveis amar-vos uns aos outros. 35Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.
(João
13,31-33a.34-35)
Estamos
no Tempo da Páscoa, da Ressurreição. Celebramos, nestes dias, o poder sem
limites de Deus. Tudo é possível para Ele. No Espírito, Deus Pai tem a energia
capaz de transformar tudo. Jesus ressuscitou como primícias, mas, depois dele,
ressuscitará também seu corpo, a Igreja. A Igreja poderá ser aquela nova
Jerusalém, casa do Amor e da Missão com que Jesus sonhou quando estava
fisicamente entre nós.
A
comunidade cristã é missionária porque Deus continua fazendo sua obra. Ele, por
intermédio do Espírito, continua a missão de Jesus. A Igreja missionária não é
dona de sua missão; procura ser transparência, expressão, colaboradora da
missão de Jesus.
A
velha Jerusalém nós já conhecemos. Está amarrada a um passado violento, a seus
ritos e sistema religioso caducos, a suas autoridades malévolas. Não conhecemos
a nova Jerusalém. Não está aqui. Vem do céu como uma noiva adornada para seu
esposo. É cidade de sonho, fundada pelo Deus que quer nos surpreender com a
novidade: “Eis que eu faço novas todas as coisas!”
Poderíamos
nos contentar em dizer que a vinda da nova Jerusalém será “no final dos
tempos”. Já estamos no final dos tempos, desde que Jesus ressuscitou! A nova
Jerusalém desce todos os dias a nossa terra. É um dom que diariamente nos é
oferecido. Isso acontece, entretanto, de forma misteriosa, sacramental. A nova
Jerusalém se oferece e se manifesta às “testemunhas escolhidas por Deus”. É o
corpo ressuscitado e novo de Cristo.
Os
que são agraciados com a contemplação da descida da nova Jerusalém, com o
aparecimento do corpo eclesial de Jesus ressuscitado têm outra consciência,
vivem as realidades eclesiais “de outra maneira”. Não ajustam sua vida ao
estilo da velha Jerusalém. Deixam com facilidade que o velho passe, para que se
instaure a novidade que vem de Deus. Não se agarram a velhos estilos de poder,
a contradições mortas. Não querem ressuscitar o velho culto, não adoram o
dinheiro, não procuram esplendores caducos.
Jesus
nos diz, de maneira muito forte, que o sinal característico de seus discípulos
é o amor fraterno. A condição essencial é que “nos amemos uns aos outros”. É a
marca da autenticidade. Sem essa marca, somos produto adulterado. Empenhar-nos
em que reine entre nós o amor fraterno não é tarefa fácil.
Existe
Páscoa e existe Ressurreição. Existem possibilidades para que se torne realidade
o sonho de Jesus, o sonho de Igreja. Preparando a acolhida da nova Jerusalém,
podemos já viver antecipadamente sua presença. Abertos às pequenas tarefas que
a mãe Igreja nos confia, podemos descobrir a maravilha do projeto misterioso. É
nos dado participar do amor do Reino que tudo une e harmoniza: o amor aos
irmãos. Por isso, quem ama seus irmãos tem a Vida.
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo emérito de Juiz de Fora
(MG)